martes, 24 de abril de 2012

Repórter não tem casa - Lívia Velasco








“O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem”
 Guimarães Rosa.




Quando o repórter vai para a rua deve ir inteiro. Olhos, boca, nariz, mãos, bloquinho de anotação, gravador, câmeras ou, se confiar, deve ligar o botão da memória e ativá-la no módulo elefante. A rua pode ser qualquer uma do mundo: amontoada de gente, de bicicleta, com pessoas de gravata, de turbante, rua deserta.

Para escrever uma história é preciso observar a realidade da qual pretende se escrever, ouvir mais que falar. Estar atento aos detalhes para poder reportar ao leitor a atmosfera, o contexto social e histórico nos quais esses fatos se desenrolaram. Se a rotina atribulada modula o olhar para que histórias passem desapercebidas, sair da vida comum já é um começo para readequar um novo ângulo da realidade.

Assim, a viagem é um estado de espírito, no qual se está mais aberto para olhar o outro. É uma ferramenta de modular descobertas, reencontrar o desconhecido, se perder, procurar a essência e promover encontros entre mundos distintos. Ao viajar nos forçamos a aprender a todo instante, somos estimulados a olhar para o outro, exercer de maneira mais intensa a humildade já que nos sentimos livres e fortes por ir ao encontro do desconhecido, e ao mesmo tempo, pequenos e frágeis diante do tamanho do mundo.

Cada destino um recomeço
Nasci no Brasil, em 1986, no estado de Mato Grosso do Sul, onde fiz jornalismo, na universidade pública desse estado. Durante esse período, atuei como estagiária, estando em contato direto com questões relacionadas aos direitos humanos, minorias sociais e questões de gênero. Sempre fui consciente de todos os jogos de interesses a que exercício da profissão é submetido, da manipulação da mídia em favor de uma pequena minoria, mas mesmo assim, sigo otimista.

Acredito que devemos buscar a denúncia e falar sempre a favor do bem comum, precisamos resistir e até negociar maneiras de burlar esse sistema que fez da comunicação um mercado de ideologias. Por isso nunca pude parar de estudar, de buscar conhecimento e ferramentas para apresentar conteúdos diferenciados ao leitor, materiais que não contribuam como uma visão já estabelecida e que levam alguma experiência diferenciada ao público. Assim, depois da graduação me mudei para a cidade de São Paulo e cursei a especialização em Jornalismo Literário, na Associação Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL).

Embora com uma carreira ainda jovem, atuei como repórter quatro anos, trabalhando com a editoria de turismo e com jornalismo coorporativo. Há dois meses, cruzei o Atlântico para fazer o Máster en Periodismo de Viajen, porque sonhos não têm fronteiras geográficas. Estar em Barcelona é o meu novo recomeço e, sem dúvida, o grande desafio da minha história, porque inicio um projeto de vida no qual pretendo unir a narrativa literária do jornalismo com a viagem, usando essas duas paixões para apresentar ao leitor, a minha percepção, das várias faces do mundo. Como cidadã, repórter e habitante desse planeta, só posso ser útil ao mundo escrevendo, não sei fazer outra coisa, não tenho opções. Então espero, sinceramente, que meus escritos sirvam para algo e que vocês também viagem pelas ruas e histórias que eu passar.

Boa viagem com La Odisea.


1 comentarios:

  1. Anónimo4/12/2013

    Olá, acabei de conhecê-la, primeiro, pessoalmente, na Justiça de Campo Grande. Ao saber que é jornalista, como eu, busquei na net e achei esta bela matéria sua. Gostei muito da sua forma simples e empolgante de escrever. Gosto do jornalismo literário. Parabéns por acreditar e investir em seus sonhos! Desejo-lhe sucesso sempre e foi um prazer conhecê-la.

    Aldo Cristino

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